Temos o prazer de conversar com Madhu (Maneko) a mente e a voz por trás da banda Mais Que Palavras, um dos nomes mais representativos do hardcore punk do DF. Completam a formação:
Guga – Baixo, Leandrao – Guita, Fill – Guita e Jarderson – batera, membros que compartilham a paixão por música e ideais, a banda carrega consigo uma mensagem de união, resistência e positividade.
Desde o lançamento da sua primeira demo em 2011 até o split CD Mais Que Livres, o grupo tem se destacado por misturar influências de ícones do hardcore dos anos 80, como Bad Brains e Suicidal Tendencies, com a energia de bandas contemporâneas, como Comeback Kid e Champion.
Nesta entrevista, vamos explorar a trajetória da banda, suas inspirações, desafios e contribuições para a cena underground de Brasília. Prepare-se para descobrir o que torna o Mais Que Palavras “mais que uma banda” – uma verdadeira representação de atitude e resistência na música!
ENTREVISTA “MAIS QUE PALAVRAS”
Vocês poderiam relatar como foi o início da banda? Quais foram as principais dificuldades encontradas e como vocês as superaram para consolidar o Mais Que Palavras na cena?
Decidimos montar a banda em 2010. Foi uma parada bem despretensiosa, um grupo de amigos que queriam se expressar através do hardcore punk. A gente sempre se empenhou e encarou isso como uma retribuição a tudo que recebemos do hardcore punk na questão de dar sentido as nossas vidas, sempre no “faça você mesmo”, errando e acertando nas coisas que acreditamos e rejeitando o que lutamos contra. As dificuldades acho que são as mesmas de sempre né, tem q se doar muito pra conseguir tirar uma ideia insustentável materialmente do papel. O importante é fazer.
A mensagem positiva é um aspecto marcante do hardcore punk, especialmente nas influências que vocês citam, como Bad Brains e H2O. Como vocês traduzem essa positividade nas letras e na energia da banda?
Essa positividade é muito importante pra gente, apesar da dualidade que ela carrega né. Por um lado queremos nos apegar as poucas coisas boas que temos pra manter nossa sanidade nessa selva de “salve se quem puder” neoliberal, e seguir na luta diária… mas isso nunca significou fingir que o mundo é cor de rosa ou negar sentir raiva ou tristeza. É mais uma fórmula que aprendemos na nossa comunidade pra nos manter de pé e encontrar maneiras de subverter a vida que planejaram pra nós.
O nome “Mais Que Palavras” é bastante emblemático. Qual é a mensagem principal que vocês querem passar com esse nome, e como ele reflete os valores do straight edge e do hardcorepunk?
Esse nome é o trecho de uma música do Bane, que na verdade é uma pergunta : “Isso era mais que palavras e ainda se aplica? Você ainda acredita? Eu acredito” Então essa afirmação que deixa possibilidades em aberto é exatamente como nos sentimos em relação a banda. Por que o que sentimos nem sempre pode ser expressado por palavras mas tem dias que temos que nos perguntar sobre as coisas que dissemos e fazemos. Acho que isso reflete bem a ideia do hardcore punk de não ser uma coisa engessada né, particularmente vejo uma relação com o sxe também, mas como sou o único sxe da banda acho q não cabe comentar em nome de todos.
Vocês têm uma conexão forte com Brasília, uma cidade que já foi berço de movimentos musicais importantes no Brasil. Como vocês veem o papel de Brasília na cena underground atual, especialmente no hardcore punk? O que esta faltando?
A gente tende a pensar mais nessa conexão com o DF e o entorno. Sempre enfatizamos isso quando vamos pra fora. Nos definimos como uma banda do DF, já que nem todos nós moram no aviãozinho. Sinceramente não acho que falte nada. O DF eh foda, tem mta banda boa, investimento público, vários picos legais, festivais, muita gente de atitude organizando eventos e metendo as caras, coisa que nos outros lugares não tem nem metade. A gente precisa ver e valorizar isso. O fato de não fazermos parte do eixo sudestino termina baixando nossa auto estima e valorizando mais o que vem de lá e o que acontece lá do que o vem daqui e acontece aqui. E essa mentalidade é um tiro no pé. O DF e o entorno são foda, representa muito e sempre foi fundamental na construção do hc punk sul-americano.
A primeira demo de vocês, lançada em 2010, mistura influências de bandas dos anos 80 e grupos mais recentes. Como foi o processo de criar um som que unisse essas duas gerações do hardcore?
Foi um processo natural e muito orgânico, por que eh isso que somos, filhos dos anos 80 que não ficaram parados no tempo. Se o hardcore pretende de alguma forma mudar algo no mundo ele tem q levar em consideração que o mundo não é mais o mesmo de quando black flag escreveu aquelas músicas. Alguns problemas podem até ser parecidos mas muitos deles mudaram, o mundo e as pessoas mudam, e isso não pode ser ignorado ideologicamente nem musicalmente. Se manter a essência dá pra conversar com várias gerações e no fim é isso que importa, essa comunicação pra não terminarmos ilhados e cair num ostracismo.
Vocês poderiam comentar a discografia da banda? Como os lançamentos até agora representam a evolução musical e as mensagens que vocês querem transmitir?
A gente tem uma demo e um Split incialmente que saíram como um full depois (para ver começar basta começar), um LP (está em nós somos nós), mais um split com os amigos do Bayside Kings (YIN YANG), um 7” (aqui e agora) e agora nosso segundo LP (Dual).Tem muitas coisa diferente do começo até agora, desde alguns ajustes no som por causa da mudança de formação e um refinamento nas letras, o que acho natural depois de vivermos mais 14 anos de vida. As mensagens seguem as mesmas, auto crítica, auto observação, mudanças pessoais e postura política radical, esse é o propósito da existência do MQP, compartilhar isso com pessoas que assim como nós pensam assim e se sintam acolhidas de alguma forma.
Como vocês veem a diferença na sonoridade e na mensagem entre os trabalhos da banda lançados até hoje? Como é feito a concepção temática de cada álbum?
O pessoal sempre me deixa muito a vontade (Madhu aqui) pra escrever as letras e procuro fazer valer essa responsa. Costumo tentar fazer os registros sempre seguindo uma métrica de ideias e que as letras sejam complementares de forma que funcionem em conjunto ou separadamente. Muitas vezes essas ideias saíram de livros, na verdade ouso dizer todas.
O hardcore punk é conhecido por ser um movimento que transcende a música, promovendo valores como união, igualdade e resistência. Como vocês traduzem esses valores no dia a dia, tanto como banda quanto individualmente?
Como coletivo fazemos essa construção na banda como uma plataforma de ideias e sentimentos a serem espalhados e compartilhados, nas gravações mas principalmente nos show, encaramos os shows como verdadeiros manifestos e achamos essa interação imprescindível. Individualmente cada um se organiza da forma que acredita ser a melhor possibilidade, seja em sindicatos, movimentos populares, ações individuais, etc. Sempre tendo como base a revolução individual e coletiva, já que na nossa perspectiva essa divisão eh uma imposição da ideologia neoliberal e não se encaixa na nossa visão de mundo.
Vocês mencionam que no hardcore não existem pessoas melhores nem piores, e que barreiras não deveriam existir. Como vocês lidam com temas sensíveis, como preconceito e exclusão, dentro e fora da cena?
Na verdade não acho q pessoas melhores existam em lugar algum. Muito menos no hardcore punk que é o lugar de gente fudida como nós, que não se encaixam na sociedade e vai lá procurar sanar de alguma forma suas dúvidas e feridas da vida. A gente trata desse temas ao mesmo tempo com a firmeza que os temas exigem mas tb de uma perspectiva anti punitivista, temos que nos manter vigilantes pra não reproduzir ideários fascistoides e ao mesmo tempo ter pulso firme e se posicionar e agir com a dureza que cada situação em particular exige. Lugar de gente que finge perfeição é domingo na igreja ou numa palestra de coach pilantra, aqui tá todo mundo aprendendo e tem q haver a possibilidade de lhe dar com o erro e aprender a não repeti lo. É o clássico de endurecer sem perder a ternura, acreditando sempre na possibilidade de mudança senão não existe propósito né.
Com mais de uma década na estrada, quais são os próximos passos para o Mais Que Palavras? Podemos esperar novos lançamentos ou projetos especiais que aprofundem ainda mais a conexão com os fãs e a cena?
Estamos dedicados em um novo material, dessa vez focado na radicalidade politica que a atual conjuntura exige de nós. Esse mesmo vamos o último clipe do LP Dual. Ainda esse ano sai um novo single e outro no começo do ano.
Atual Formação é
Madhu – vocal
Guga – Baixo
Leandrao – Guita
Fill – Guita
Jarderson – batera