“A DEATH SLAM segue sendo uma banda que coloca o coração no que faz.”
Entrevista banda DEATH SLAM:
Death Slam é uma banda de Brasília que dispensa apresentações, que esta na cena desde 1990 e tem a frente a mente doentia de Felipe CDC que é com quem fizemos essa entrevista.
O Death Slam está se aproximando dos 35 anos de existência. Olhando para trás, como você avalia a trajetória da banda desde os primeiros acordes até hoje?
Primeiramente, obrigado pelo espaço cedido. Muito bom poder ‘falar’ com a imprensa independente e aguerrida. Pergunta difícil. Nunca parei para pensar sobre isso, até porquê, aos trancos e barrancos, a DEATH SLAM segue firme e combatente. Agora que perguntou – e pensando sobre isso – acredito que a DEATH SLAM tenha sim plantado alguma semente e tenha alguma relevância dentro da nossa cena underground. A DEATH SLAM segue sendo uma banda que coloca o coração no que faz. Resistência aqui é mato!
A discografia do Death Slam é conhecida por estar presente mais em compilações do que em álbuns completos. Há algum material inédito ou planos para lançar algo especial em comemoração aos 35 anos?
Pois é. O pior é que temos um monte de músicas inéditas já gravadas e nunca lançadas oficialmente – ainda com o nosso amigo – e eterno DEATH SLAM – Juliano Lopes na bateria. Era para ser o cd “Mundo de horrores” (tem até capa pronta! O Danihell Moreira detonou de novo!). Talvez ainda seja, quem sabe. Fato é que, frente à comodidade das músicas on line, pairou a dúvida e o medo de lançar esse trabalho e ver todo esse material físico encalhado. E, fora esses sons inéditos que estão gravados e não lançados, a DEATH SLAM está com mais um monte de outros sons novos, feitos após o retorno do nosso antigo batera Ademir Santana. Inclusive tem umas composições dessas disponíveis no canal do Estúdio Mercearia. Existe sim a pretensão de gravar essas e outras canções não soníferas e lançá-las de alguma forma. Alguns dos sons com o Juliano estão sendo disponibilizados em algumas outras coletâneas cooperativadas em CD. Repetindo: sim, a intenção de lançar outro cd solo e também um compacto em 2025.
Nos primeiros anos, o Death Slam tinha a proposta de unir os movimentos Banger, Hardcore e Punk, que eram muito fragmentados. Você acha que essa união se consolidou ao longo do tempo? Como a banda contribuiu para isso?
A DEATH SLAM não só tinha como permanece com a proposta de união entre headbangers, hardcores e punks, afinal, apesar de virmos e pertencermos à corrente do heavy-metal, amamos a música hardcore punk! Particularmente, compactuo, apoio, incentivo e acho primordial a ideologia punk, ainda mais nos dias atuais, em um mundo sendo devorado por ideias fascistas, nazistas, racistas e retrógadas. A DEATH SLAM é a nossa forma de luta, é a nossa maneira de gritar contra as injustiças sociais que criam abismos colossais entre seres humanos. A nossa cena underground está menos dividida hoje do que nos primeiros meses de vida da DEATH SLAM, lá em um longínquo 1990, e eu quero acreditar que a nossa banda ajudou a quebrar um pouco dessa barreira.
Considerando a formação da banda com membros de diferentes vertentes musicais, como foi a experiência de combinar essas influências? Isso ajudou a definir o estilo e a identidade do Death Slam?
No começo foi assim: eu havia passado por uma banda de deathcore (CURSED) e depois uma de hardcore (HCS); o batera Wilson Gordinho estava com a punk DESTROÇOS; o Oswaldo era o headbanger true e o guitarrista Milton era um ex punk que estava tocando bateria na thrash PITLESS. E como eu estava notando um clima hostil entre o povo do metal e os punks, propus fazermos uma banda que juntasse influências desses dois universos musicais e que tivessem letras de protesto e de conscientização. A intenção: unir essa gente toda! Passadas muitas e muitas formações essas características iniciais persistem até os dias atuais.
Como você enxerga a atual cena underground de Brasília, em termos de bandas, estúdios de gravação e locais para shows? Que desafios e oportunidades você vê para a cena musical independente?
Enxergo com bons olhos e com o coração cheio de esperança. O nosso cenário underground está se renovando e se oxigenando. Muitas e excelentes bandas novas aparecendo e a molecada botando para moer. Essa nova geração está sintonizada com o lema “faça você mesmo” (muito claro pelo fato das coisas não serem mais tão difíceis e custosas como antigamente) e está produzindo shows, fazendo e até gravando as próprias músicas. Povo novo tá muito nerd!!! Além de muitos estúdios de ensaios, tem um leque muito maior de opções na hora de gravar também. Essas circunstâncias tornam a vida das bandas menos complicada e são elementos facilitadores. Hoje também temos mais e mais entrosamento entre os movimentos metal, punk e hardcore. Tudo isso é muito benéfico.
Nos anos 90, a banda tinha como lema “gritos de revolta em forma de música bruta”. Como você sente que essa mensagem evoluiu ao longo do tempo, especialmente em um contexto político e social tão diferente hoje?
No atual contexto político precisamos gritar ainda mais! Temos mais combustível para alimentar nossa revolta contra o status quo que está cada vez mais misógino, racista e hipócrita. E que muitos outros gritos se juntem aos nossos e tornem esses sons tão potentes ao ponto de derrubarem os muros desse falso moralismo religioso e político que volta a se reerguer em todo mundo!
Você está envolvido em outras bandas e produções no meio underground.
Como você divide seu tempo entre essas diferentes atividades? Poderia listar as bandas e zines em que está envolvido atualmente?
O tempo é corrido, ainda bem que a minha esposa e companheira de mais de 3 décadas é muito compreensiva e a minha filha já é uma adulta! Fora a DEATH SLAM, estrago também as bandas TERROR REVOLUCIONÁRIO (25 anos na ativa) e CALIGO (desde 2012). Também apresento o programa ZINE-SE ao lado do meu amigo Fábio Frajola; produzo os festivais anuais VOMITANDO A CEIA (junto com o Márcio, vocalista da OS MALTRAPILHOS) e HEADBANGERS ATTACK; produzo junto com os outros integrantes os shows comemorativos da DEATH SLAM (Slam Fest) e da TERROR REVOLUCIONÁRIO (Terror Fest) e sou do grupo de apoio do FERROCK, o festival de rock mais antigo do Brasil. E ainda tenho muita vontade de voltar a editar os meus fanzines impressos. Essa vontade nunca me abandona. Uma vez zineiro sempre zineiro! oh, praga dos infernos (risos)! O coitado do meu selo INDEPENDÊNCIA RECORDS nasceu quebrado e morreu falido, mas eu ainda preciso lançar o segundo volume do livro “86 histórias sobre discos brasileiros” (eu ainda tenho cópias do primeiro! Aproveitando para fazer um pequeno jabá).
A formação da banda mudou muitas vezes ao longo dos anos. Na sua opinião, o que isso trouxe de positivo e de desafios para a continuidade do Death Slam?
A amizade deve ser a base de uma banda, ainda mais quando se trata de uma banda ultra underground que não ganha um centavo com a música que produz. Muito pelo contrário, gasta para produzir o próprio barulho. A banda cria um vínculo quase familiar e toda a vez que alguém precisa quebrar esse elo é um choque! Passado o baque inicial é hora de convidar outro ente querido para dar continuidade à família, passar sons, conversar e deixar que o novo membro traga as suas influências, desde que elas não impliquem nas mudanças sonoras e ideológicas propostas pela DEATH SLAM lá em outubro de 1990 e reconhecidas pela convenção internacional de grind metal. Todas as mudanças – e foram muitas! – agregaram com uma outra característica positiva. Felizmente a atual formação (Adélcio, Ademir, CDC e Itazil) já está junta há muitos anos e o nosso entrosamento está muito bom. Acima de tudo, são 4 amigos unidos com o propósito de fazer barulho, protestar e, claro, se divertir! DEATH SLAM é o nosso hobby sério, a nossa válvula de escape contra o estresse da vida adulta!
Conheça a discografia do Death Slam