Lords of Chaos: O Black Metal Norueguês e Suas Verdades e Mentiras

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Lords of Chaos: O Black Metal Norueguês e Suas Verdades e Mentiras

Assim como a história em que é baseado, Lords of Chaos também é um filme polêmico. Polêmico porque é uma dramatização dos fatos que ocorreram no final dos anos 1980 e início da década de 1990 na Noruega, e não um documentário sobre a cena black metal do país. E esse fato, apesar de ficar claro desde o início – a introdução estampa um colossal “baseado em verdades, mentiras e no que aconteceu” logo na abertura –, parece não ter entrado na cabeça de muitos que assistiram.

Vamos contextualizar as coisas. Lords of Chaos é um filme de Jonas Åkerlund, baterista que fez parte do lendário Bathory em suas formações iniciais e construiu sua carreira dirigindo clipes premiados e super conhecidos de artistas como Madonna, Beyoncé, Rihanna, Metallica, Rolling Stones, U2 e mais um monte de gente. Ele também tem alguns filmes no currículo, como o recente Polar, lançado pela Netflix em 2019. A ideia de Åkerlund foi contar nas telas o que rolou na famosa cena que deu origem ao True Norwegian Black Metal, responsável por bandas como Mayhem, Burzum, Emperor, Darkthrone, Gorgoroth, Immortal, Satyricon e inúmeras outras. Essa mesma cena também ficou marcada por eventos extremamente controversos, como a queima de igrejas centenárias, assassinatos e a morte de seu personagem central, Euronymous, guitarrista e líder do Mayhem.

A Música e o Contexto

Musicalmente, o que aconteceu na Noruega no início dos anos 1990 mudou a música extrema para sempre. O black metal, apesar de ter surgido no início da década de 1980 com bandas como Venom, Hellhammer, Celtic Frost e outras, foi moldado e construído como gênero sonoro pelos jovens noruegueses daquele período. Nesse sentido, o que as bandas norueguesas gravaram na época soava inovador, rompendo padrões e estabelecendo uma nova forma de metal, que se revelaria extremamente influente com o passar dos anos. O Mayhem foi a banda central dessa revolução, ao lado do Burzum. A abordagem que Euronymous trouxe para a forma de tocar guitarra, o apelo estético do corpse paint e as performances perturbadoras do vocalista Dead, além de seus sucessores Attila Csihar e Maniac, estabeleceram os arquétipos do black metal.

Por outro lado, o Burzum de Varg Vikernes apresentava uma sonoridade ampla, complexa e rica, que impactou gerações. Artisticamente, o momento foi um dos mais criativos da história do heavy metal, consolidando o black metal como um novo gênero.

Curiosamente, a trilha sonora do filme reflete essa história de forma cuidadosa, incluindo bandas de grande relevância como Sarcófago, do Brasil. A presença do Sarcófago reforça o impacto global do gênero e sua influência em outros movimentos extremos ao redor do mundo.

O Outro Lado da Moeda

A cena trouxe consigo outros aspectos mais sombrios. A queima de igrejas históricas nasceu da rejeição ao dogma cristão, que segundo Varg e outros integrantes do Inner Circle havia apagado a tradição e os deuses nórdicos. A violência também esteve presente, com eventos como o suicídio de Dead e homicídios movidos por ódio racial e sexual. Tudo isso é mostrado no filme, sem filtros, sem romantização ou idolatria aos envolvidos.

Sobre o Filme

Lords of Chaos é baseado no livro de mesmo nome escrito por Michael Moynihan e Didrik Søderlind, publicado em 1998, considerado um dos mais completos documentos sobre o período. O elenco inclui Rory Culkin como Euronymous, Emory Cohen como Varg Vikernes, Anthony De La Torre como Hellhammer, Jack Kilmer como Dead e Valter Skarsgård como Faust. A narrativa é conduzida por Euronymous, que conta sua história enquanto os eventos se desenrolam.

Esteticamente, Jonas Åkerlund recria os cenários de maneira detalhada, com uma ambientação que reflete o clima sombrio da época. O filme tem um ritmo envolvente, apresentando os fatos como uma bola de neve que cresce até sair de controle – algo atribuído, segundo o roteiro, à imaturidade dos protagonistas. Jovens, com egos inflados e ansiosos por afirmação, eles ultrapassaram todos os limites em busca de reconhecimento.

A Experiência de Assistir

As atuações são medianas, mas suficientes para entregar a intensidade da história. Temas polêmicos, como o suicídio, são tratados sem glamourização – a cena da morte de Dead, por exemplo, é brutal e impactante. Culkin faz de Euronymous um líder manipulador e visionário, enquanto Cohen transforma Varg de um jovem inseguro em uma figura central da tragédia.

Assim como o black metal, Lords of Chaos não é um filme de fácil digestão. Violento, polêmico e caricato em alguns momentos, ele adapta os eventos reais para o cinema de forma impactante, mas não literal. É uma porta de entrada para o universo sombrio que deu origem ao black metal norueguês. Se o filme despertar sua curiosidade, vale a pena explorar documentários e materiais mais profundos para obter uma visão mais completa. E, claro, não deixe de apreciar a trilha sonora, que presta homenagem ao impacto global do gênero – incluindo o peso inconfundível de bandas como Sarcófago.

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