Bulimia: Punk Rock não é só para seu namorado

Por: Amarildo Adriano

O Grito Feminista do Punk Rock de Brasília

No cenário musical de Brasília, conhecido por sua efervescência criativa, poucas bandas marcaram sua presença com tanta intensidade e significado como a Bulimia. Formada no final dos anos 1990, a banda surgiu com uma missão clara: ocupar espaço, romper barreiras e trazer o protagonismo feminino para o centro da cena punk rock brasiliense.

Raízes e Inspiração

A história das mulheres no rock de Brasília remonta aos anos 1980, com bandas pioneiras como Detrito Federal, (Débora e Mila), que mais tarde formariam a Volkana, e outras bandas femininas que pavimentaram o caminho, como Autópsia, Valhalla, Flammea e Kaos Klitoriano. Foi nesse contexto que a Bulimia encontrou inspiração, mas também a necessidade urgente de inovar.

O nome da banda foi inspirado na bulimia, transtorno alimentar que simboliza as pressões e violências sofridas por mulheres no mercado de trabalho e na sociedade. Esse simbolismo reflete o espírito combativo e crítico do grupo, que buscava politizar e empoderar garotas por meio de sua música e postura.

A Ascensão

A Bulimia nasceu com o objetivo de conscientizar e instigar as mulheres a reivindicarem espaço, tanto no palco quanto fora dele. O grupo falava abertamente sobre sexismo, misoginia e as dificuldades enfrentadas pelas mulheres, inclusive dentro do próprio cenário punk, que à época era amplamente dominado por homens e permeado por discursos machistas.

Com uma sonoridade visceral e letras que não se esquivavam de temas políticos e sociais, a banda se tornou uma referência no punk rock feminista da América Latina. Suas músicas abordavam empoderamento, igualdade de gênero e resistência, destacando-se pela potência dos vocais de Iéri e pelo instrumental bruto e contagiante de Bianca, Naiana e Berila.

O Álbum que Marcou uma Geração

Em 2001, a banda lançou seu único álbum, Se Julgar Incapaz Foi o Maior Erro Que Cometeu, uma obra que rapidamente se tornou um marco. Com 15 faixas explosivas, o disco encapsula a energia crua e a mensagem feroz do grupo. Canções como “Punk Rock (Não É Só Pro Seu Namorado)” desafiaram as normas da época e se tornaram hinos de resistência, ganhando versões e interpretações em diversos contextos, como “Punk Rock (Também É Pra Viado)” da banda Queercore Seu Pai já sabe?.

O Fim Prematuro

Apesar de sua curta trajetória — de 1998 a 2001 —, a Bulimia deixou um legado inestimável. A banda se dissolveu após a morte trágica de sua baterista e fundadora, Berila, que faleceu em um acidente de afogamento na Chapada dos Veadeiros. A perda foi um golpe devastador para a banda e para a cena punk de Brasília.

Em entrevista, Iéri, a vocalista, revelou que o grupo já planejava encerrar suas atividades quando o álbum foi lançado, mas havia decidido cumprir os compromissos agendados. Mesmo assim, a morte de Berila marcou o ponto final na história do grupo.

Legado

A Bulimia não foi apenas uma banda; foi um grito de resistência e um convite à ação. Com letras que dialogam com temas como machismo, misoginia e empoderamento, o grupo pavimentou o caminho para futuras gerações de mulheres no punk rock. Até hoje, suas músicas ressoam entre bandas e fãs que encontram inspiração em sua mensagem.

Com apenas um álbum e uma trajetória curta, a banda provou que não é a duração de uma carreira que define seu impacto, mas a intensidade e a verdade com que se vive e cria. A Bulimia segue como um símbolo de luta, coragem e transformação no cenário musical brasileiro.

Recentemente a banda ganhou um projeto em forma de um tributo “À BEIRA DO CAOS | Tributo ao Bulimia!”


Formação:

  • Berila (Bill) – bateria
  • Bianca – guitarra e vocal
  • Naiana – baixo e vocal
  • Iéri – vocal

Discografia:

  • Bulimia (1998)
  • Se Julgar Incapaz Foi o Maior Erro Que Cometeu (2001)

Legado:
Um marco do punk rock feminista brasileiro, que segue vivo na memória da cena underground e na história cultural de Brasília.

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