O cenário musical de Brasília, conhecido por sua diversidade cultural e berço de inúmeras bandas icônicas, guarda com carinho a memória de uma das mais influentes e celebradas no underground local: Lupercais. Com uma trajetória curta, mas profundamente marcante, o grupo, originário do Gama, Distrito Federal, surgiu em 1995 e rapidamente deixou sua marca no cenário post-punk e rock gótico brasileiro.
Um Som Subversivo e Poético
Enquanto muitas bandas da época apostavam em letras mais leves e humorísticas, Lupercais ofereceu uma alternativa profunda e sombria. Inspirados por gigantes como Echo & the Bunnymen, Bauhaus e Joy Division, além de bandas brasileiras como Muzak, Finis Africae e Zero, os integrantes do Lupercais trouxeram para suas músicas a intensidade do post-punk e do rock gótico, adornadas com letras carregadas de referências literárias e históricas.
Canções como “O Testamento de Caim”, “Crônica de um Morto Cafajeste” e “O Suplício de Bruno” destacam a essência melancólica e intelectual da banda, abordando temas como pessimismo, angústia e depressão. Essa combinação única fez do Lupercais uma referência para a cena musical alternativa e um marco para os fãs do gênero.
Uma Tragédia Prematura
A ascensão do Lupercais foi interrompida tragicamente em 1998 com a morte de Sidney Paulino, vocalista e principal figura da banda. Aos 28 anos, Sidney faleceu devido a um aneurisma cerebral, deixando fãs e amigos consternados. Sua partida abrupta marcou o fim da banda, mas não do legado que construíram em tão pouco tempo.
Mesmo com a interrupção precoce, Lupercais participou de importantes coletâneas da época, como “Atitude – Vol II” e “Violet Carson”, ampliando sua influência no cenário underground. Após sua dissolução, lançamentos póstumos, como “Os Filhos da Descrença”, e homenagens, como o tributo “Epidendrum Nocturnum” (2003), ajudaram a perpetuar a relevância da banda.
A Origem do Nome: Um Elo com a História
O nome Lupercais carrega uma profundidade histórica que reflete a essência intelectual da banda. Derivado das Lupercálias, festividades romanas dedicadas ao deus Luperco, a palavra remete a rituais de purificação e fertilidade da Roma Antiga. Essa conexão com o misticismo e a ancestralidade enriquece ainda mais a simbologia por trás do grupo, reforçando sua identidade única.
O Resgate da Memória: Lupercais em Livro
Em 2023, um dos integrantes remanescentes da banda, conhecido como Fofão (Besthoven), lançou um tributo literário intitulado “LUPERCAIS – RELATOS DE UM MÚSICO LUPERCO”. Neste livro de 184 páginas, com capa dura, o guitarrista e multi-instrumentista narra as histórias e memórias dos anos de existência da banda (1995-1998). A obra traz uma perspectiva íntima, repleta de curiosidades e detalhes até então desconhecidos, oferecendo uma visão inédita dos bastidores da cena musical gamense.
O livro é enriquecido com dezenas de fotos, muitas delas inéditas, além de reunir todas as letras da banda, discografia completa, matérias de zines, cartazes e flyers que marcaram a trajetória do Lupercais. Como um presente aos fãs, a edição inclui um cartão postal exclusivo e um marca-página, consolidando-se como um registro histórico indispensável para quem admira o legado da banda.
Discografia Completa da Lupercais: Uma Jornada Musical no Underground Brasileiro
Álbuns e Demos
- Demo Tape (1995)
Primeira demo da banda, também conhecida como “Lupercais”, marcou a estreia do grupo e apresentou ao público o estilo único que combinava post-punk e rock gótico, com letras densas e subversivas. - O Desregramento dos Sentidos (1997)
A segunda demo, um trabalho mais maduro que evidenciava o progresso musical da banda. Apesar de enfrentar desafios na masterização, consolidou a identidade sonora do grupo. - Os Filhos da Descrença (1998)
EP lançado em CD-R com quatro faixas. Este foi um disco póstumo, lançado após o falecimento do vocalista Sidney Paulino, e tornou-se uma homenagem à trajetória da banda.
Compilações
- O Dia da Caça – Ao Vivo (1996)
Uma coletânea ao vivo que incluiu performances energéticas da banda, capturando a intensidade de seus shows. - Atitude – Vol II (1998)
Coletânea que trouxe a participação da Lupercais, ampliando sua visibilidade no cenário musical alternativo. - Violet Carson (1998)
Outra coletânea importante no meio underground, com a inclusão de faixas da banda que reforçavam sua relevância. - Epidendrum Nocturnum (2003)
Um tributo à Lupercais, com diversas bandas de Brasília homenageando o legado do grupo. A coletânea destacou a influência duradoura da banda na cena musical local. - Split LP Lupercais/Pompas funebres (2019) Split LP com a banda Pompas Funebres
Reedições
- Definitive Discography 1995-1998 (2017)
Uma reedição em CD que compilou os principais trabalhos da banda, proporcionando uma visão completa de sua produção musical e celebrando sua importância no rock alternativo brasileiro.
Legado da Discografia
A produção musical da Lupercais, apesar de breve, reflete uma dedicação intensa à música alternativa, com um impacto profundo no cenário gótico e underground brasileiro. Suas demos, EPs e participações em coletâneas continuam a inspirar músicos e fãs, reafirmando o Lupercais como um ícone atemporal da cultura musical de Brasília.
O Legado do Lupercais
Embora tenha existido por poucos anos, o Lupercais permanece como um dos pilares do rock alternativo de Brasília, influenciando não apenas bandas contemporâneas, mas também artistas de gerações posteriores. Seu som visceral, suas letras profundas e sua postura subversiva consolidaram a banda como uma referência indispensável na história da música brasileira.
Com o lançamento do livro “LUPERCAIS – RELATOS DE UM MÚSICO LUPERCO”, Fofão oferece aos fãs e admiradores a oportunidade de mergulhar em um relato autêntico e emocionante sobre a banda, garantindo que sua memória continue viva e inspirando novos artistas. Lupercais não é apenas uma banda; é um símbolo eterno da resistência e da criatividade na música alternativa.
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