Por: Amarildo Adriano
No dia da Consciência Negra, é fundamental refletir sobre a contribuição da comunidade negra em diversos campos da cultura, resgatando histórias que, muitas vezes, ficaram à margem da memória coletiva. No cenário do rock brasiliense, reconhecido como berço de importantes bandas nacionais, há narrativas que clamam por visibilidade: as histórias de músicos negros que ajudaram a moldar a identidade musical da capital do país.
A Constituição Federal de 1988 consagra o princípio da igualdade em seu Artigo 5º, afirmando que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.” Contudo, na prática, as desigualdades raciais ainda se manifestam em diversas esferas, incluindo o reconhecimento cultural. O auge do rock em Brasília, que consolidou a cidade como a capital do rock brasileiro, foi uma revolução musical, mas as contribuições negras para essa cena permanecem sub-representadas. Este texto busca lançar luz sobre essas histórias, combatendo o esquecimento histórico e destacando a importância da presença negra no rock brasiliense.
A Contradição do Sucesso e do Esquecimento
Na música “Faroeste Caboclo,” da Legião Urbana, Renato Russo retrata a discriminação ao cantar:
“Não entendia como a vida funcionava, discriminação por causa da sua classe e sua cor.”
A banda teve em sua formação Renato Rocha, conhecido como Negrete, o primeiro músico negro a ganhar destaque em uma banda de rock de Brasília. Apesar de seu talento e contribuição, Negrete morreu em 2015, no anonimato e na miséria, simbolizando o apagamento histórico que muitos outros músicos negros enfrentaram.
O Cenário Underground e a Resistência Negra
Nas entranhas do rock underground de Brasília, essa narrativa se repete. Bandas como Detrito Federal, Crematório, ARD, Abhorrent, Fallen Angel, Escola de Escândalos, PUS, Desakato a Autoridade, Os Cabeloduro, Galinha Preta dentre tantas outras que contaram com músicos negros que deixaram suas marcas na cena alternativa candanga. Contudo, suas histórias muitas vezes permanecem relegadas à memória daqueles que viveram o efervescente movimento do rock candango.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) de 2021, pessoas negras representam 57,4% da população do Distrito Federal. Essa maioria, no entanto, não se reflete proporcionalmente no cenário musical do rock, mesmo que as raízes do estilo estejam firmemente ancoradas nas manifestações culturais negras, como o blues, o gospel e o soul.
O Direito à Memória e à História
Resgatar essas narrativas é um compromisso com o direito à memória da comunidade negra e uma forma de combater o racismo que persiste em apagar ou minimizar suas contribuições culturais. A história do rock brasiliense é, também, a história de músicos negros que, mesmo diante de dificuldades, ajudaram a construir um dos movimentos culturais mais icônicos do país.
Ao trazer à tona essas histórias, não estamos apenas resgatando o passado, mas também abrindo espaço para a construção de um futuro mais igualitário e inclusivo, onde todas as vozes, todas as cores e todas as histórias tenham seu devido lugar na música e na sociedade. Neste Dia da Consciência Negra, celebramos e reverenciamos a contribuição negra no rock brasiliense, reafirmando que sua música, sua luta e seu legado são eternos.
Parabéns Amarildo! Pelo argumento super bem colocado, com relação a questão do RACISMO que infelizmente é tão presente quanto velado.
Gratidão pela sua contribuição para a cena do rock !