Stuhlzapfchen Von N: A Primeira Banda de Hardcore de Brasília

Por: Amarildo Adriano e Lele Teles

O punk não morreu e, pela insistente e insolente teimosia, nunca morrerá.

Mas algumas bandas punks, ainda que vivas, podem cair no esquecimento. Esse é o caso do ocaso de uma das bandas mais importantes da cena underground do Distrito Federal, o excelente quarteto de hardcore, nascido no Gama, batizado com um nome em alemão quase impronunciável:  Stuhlzapfchen Von N, que significa Supositório Nuclear.

Com essa banda pioneira do Hardcore no DF, quatro moleques de nariz sujo, Gilmar (guitarra), Betinho (bateria), Airton (baixo) e Niltão (vocal), levantaram poeira na periferia com seus shows infernizantes e botaram fogo na capital com seus gritos cheios de fúria e revolta social.

Era o início dos anos ’80 e estávamos em plena ditadura militar. A cultura punk começava a engatinhar no DF, em paralelo com a cena paulistana, e esse pixote punk de cabeça quente foi parido por um Aborto Elétrico e o seu primeiro grito foi um berro nervoso de rebeldia. Desde que Renato Russo vomitou as primeiras podreiras no microfone, com o seu punk cru e direto, a cidade nunca mais foi a mesma: o concreto rachou.

E das fendas dessa rachadura foram saindo mais e mais bandas. Porém, alguns grupos começaram a suavizar as distorções das guitarras e abandonar o discurso político mais agressivo e optarem por letras mais introspectivas. A Legião Urbana, do próprio Renato Russo foi uma delas.

Parecia que a coisa ia esfriar. No entanto, enquanto muitas bandas migravam para o Pós-punk, e o New Wave ganhava força como tendência, o mundo via surgir uma nova explosão sonora. Em 1982, o Discharge lançava o clássico Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing, e o The Exploited fincava bandeira com Punks Not Dead. Era o início da segunda onda do punk: mais agressiva, mais direta, mais politizada e mais visual. O movimento, até então marcado por cores berrantes, passou a travestir-se de preto e branco: nascia o hardcore.

Em Brasília, a primeira banda a encarnar essa nova estética foi a Stuhlzapfchen Von N, seu som, sujo e agressivo, exalava rebeldia e distorção, o impacto dessa banda na cena punk do DF foi explosivo. Entre 1984 e 1988, o Stuhlzapfchen Von N trouxe para a cena candanga um visual carregado de atitude: cabelos espetados, alfinetes, correntes, e uma postura abusada e radical. As letras criticavam a violência policial, apontava as mazelas sociais e expressava o inconformismo da juventude periférica.

A banda ainda trazia para frente do palco dois jovens negros, Gilmar e Niltão, este frontman, com os seus quase dois metros de altura, e sua postura debochada, era uma figura impossível de ser ignorada. Se o concreto havia rachado lá atrás, agora esse quarteto estava disposto a abalar as estruturas e por tudo abaixo.  Em qualquer lugar da cidade que tivesse um palco e bandas punks tocando, o Stuhlzapfchen Von N estava lá, gritando Eixão da Morte e Cães de Guerra. E com eles, uma legião de punks periféricos e de moicanos empoeirados.

Em 1986, já com Gilmar assumindo guitarra e vocais, após a saída de Niltão, os caras se tornam a primeira banda de música extrema do Centro-Oeste a gravar um disco. Contra tudo e contra todos, eles lançam um Split LP com uma outra banda recém-formada, o BSB-H. O disco, histórico, se chama Ataque às Hordas do Poder, cada banda gravou um lado. Ataque às Hordas do Poder se tornou um marco absoluto na história do punk brasiliense e da região Centro-Oeste, influenciando gerações de bandas que viriam depois. Esse disco foi fundamental para que a chama permanecesse acesa.

A banda passou por diversas formações e, em 1989, mudou de nome, passando a se chamar A.R.D. (After Radioactive Destruction), tendo Gilmar como único membro original, eles acabaram de fazer uma turnê pelo norte da Europa.

O Subversivo Zine faz questão de deixar registrada essa singela homenagem a uma banda de vida curta, mas de influência longa e que deixou sua marca definitiva na história do hardcore brasileiro.

Deixe seu comentário