
Signo 13 é uma banda pós‑punk/gothic rock de Brasília (DF), em atividade desde 2012. Liderada por Felipe Rodrigues (voz e guitarra), o grupo mistura influências dos anos 80, surf‑punk, dub e elementos góticos, com composições que transitam entre o intimista, visual e cinematográfico .
O conceito do álbum Serpentário dialoga com a simbologia da constelação Ofiúco e questões existenciais. Como esse conceito foi construído e de que forma ele se conecta com a identidade da banda?
Salve zine O Subversivo, obrigado pelo espaço, acompanho a muitos anos e é um prazer estar aqui. “Ofiúco” é a constelação mais antiga do universo, apesar da banda não ter essa intenção de se relacionar com a astrologia e essa coisa do zodíaco, foi inevitável a banda explorar esse link com o “Serpentário”, que é o décimo terceiro signo. O nome da banda é uma provocação com esse lado exageradamente supersticioso do brasileiro, o “13”, essa coisa do azar ou sorte.
Esse foi o primeiro álbum cheio da banda, e foi um mote perfeito para concatenar todas aquelas composições que vinham sendo compostas a quase uma década, o lance da serpente pode ser interpretado também como uma referência bíblica a Adão e Eva e esse ser que desencadeou essa noção de culpa, perversão, subversão, liberdade… claro, de uma maneira metafórica, simboliza o início.
Nosso segundo disco que está em processo de lançamento nesse momento, tem como fio condutor os pássaros, mas, mais pra frente aqui na entrevista disserto melhor sobre esse conceito.
O som da Signo 13 transita entre o pós-punk, gothic rock, synthwave, dub e até surf music. Como vocês equilibram essas influências tão diversas no processo criativo?
Esse processo de equilibrar essas influências acontece de um jeito muito natural, como dominar um idioma, uma linguagem. O Dub era muito comum nos discos lançados na década de 80 como Bauhaus, P.I.L, The Clash, e eu pirava nessas tracks cheia de reverbs e delays, e isso acabou refletindo no som. O Delay na voz e guitarras, virou uma forte característica na obra da Signo 13, a Surf Music sempre permeou meu subconsciente, adoro bandas brasileiras como The Jet blacks, The Jordans, The Pops em todos os lançamentos de nossa discografia tem alguma faixa Surf Music e é uma característica forte do meu trabalho como guitarrista e compositor, bandas como 45 Grave e o disco solo do Rikk Agnew, foram grandes influenciadoras para fazer esse mix Post Punk / Surf Music. A Synthwave passou a ser mais presente a partir da pandemia e o trabalho em home estúdio que foi onde passei a usar mais sintetizadores, teclados e bateria eletrônica. Sempre em um processo intuitivo e orgânico.
O novo álbum Augúrios já esta disponivél. O que podemos esperar desse trabalho em termos de sonoridade e temática? Ele representa uma ruptura ou uma evolução natural do que vocês fizeram em Serpentário?
A previsão é de lançar esse material completo até o final de 2025, já tem 5 singles disponíveis aí nos streamings e agora em julho sai o sexto, que é a faixa “Até que a Cruz em Minhas Costas se Transforme em Duas Asas”. Augúrios é uma forma de se fazer previsões baseada na frequência dos pássaros, o álbum é mais conceitual e representa a evolução da obra, é a continuidade.
A Signo 13 é um organismo vivo e essa metamorfose reflete na arte que produzo, então sempre é uma surpresa o próximo lançamento, estou sempre inserindo novos elementos, novas influências no som e no texto, e é um processo que precisa continuar instigante e estimulante para eu querer continuar indo pra estúdio ensaiar e lançar novas músicas, fazer discos. De jeito nenhum quero ficar engessado a um gênero ou algo parecido, por exemplo quero continuar colocando influências de jovem guarda, garage rock, dance music, como sempre fiz, de um jeito livre.
Adoro a previsibilidade da discografia de um Killing Joke, um Motorhead, mas quando se está dentro da situação é mais excitante lidar com um elemento sonoro inesperado, experimental, criativo, novo, assim como vemos em bandas como Interpol, QOTSA, Actors….
A banda começou como um projeto solo e depois virou duo, retornando ao formato de “one man band” em alguns momentos. Como essa dinâmica influencia o processo criativo e as apresentações ao vivo?
Quando lancei o primeiro EP “El Verdugo y la Vendetta” em 2012, fiz a gravação no ME Estúdio em Taguatinga e gravei como “One man band”. O EP é uma fotografia desse processo rústico, rudimentar, mas honesto, sincero, na base do “Do it yourself”. Depois desse período a banda foi duo, trio, quarteto hehe aí em 2023 eu reativei a Signo 13 nos palcos e comecei a me apresentar em um formato solo, onde eu tocava guitarra e fazia o vocal acompanhado de bateria eletrônica e soltava faixas pré gravadas de baixo, fiz quase 40 shows nesse formato, inclusive em SP e GO. Aí nesse ano de 2025, enchi um pouco o saco de tocar desse jeito e resolvi retomar a formação em trio, iremos realizar alguns shows neste segundo semestre celebrando os 13 anos de carreira, quem vai me acompanhar é o Alessandro Gomes na bateria e o Douglas Almeida no baixo. Inclusive a estreia dessa formação acontece dia 19 de julho no Paranoá no evento “Rock no coração brasiliense”.
As letras da Signo 13 frequentemente abordam temas como alienação urbana, controle social, pandemia, ansiedade e existencialismo. De que forma o contexto político e social do Brasil impacta diretamente na composição das músicas?
Sim, esses são temas recorrentes, a abordagem busca refletir a realidade que nos cerca e falar desses assuntos de uma perspectiva de quem tem uma vida comum no terceiro mundo, que trabalha e..emprego formal e prodiz arte, o texto é atemporal e mais do que nunca é necessário cutucar a ferida do neo-fascismo que vem aí nos assombrando há muitos anos.
Também há em nossa obra uma abordagem muito introspectiva, que apesar de serem pontos de vista muito particulares, acabam dialogando com muitas pessoas, já fiquei emocionado algumas vezes lendo relatos de ouvintes que falam que nossa música em algum momento o ajudou a superar crises depressivas, auxiliou na luta contra vícios, deu um gás para seguir adiante etc. Esse é o melhor cachê, é quando todo o esforço vale a pena.
A estética visual da banda sempre foi muito forte, com capas assinadas por artistas como Fernando Carpaneda, Lucas Mendes, Saulo Valle, entre outros. Como vocês pensam dessa relação entre música e imagem?
Bacana você observar esse detalhe, pra mim é um prazer e uma honra trabalhar com esses artistas, fotógrafos, grafiteiros, ilustradores, sempre busco artistas que tenham alguma ligação com o Distrito Federal e/ou com a banda.
O “Serpentário” foi lançado ao longo de 13 meses, 13 singles, entre 2019 e 2021, cada lançamento possui uma arte exclusiva dos artistas aqui citados. Sempre tive amigos envolvidos em outras formas de produção de arte, e toda vez que posso tento envolvê-los em trabalhos com a Signo 13.
Entre outros nomes que poderia destacar aqui e que desenvolveram algum trabalho visual conosco, tem o Zakuro Ayoama, Blas Roig, Ivaldo Cavalcante, DPS Arts, Armando Salmito, Violetarte, Eduardo Belga, Luciana Ribeiro, Stevz, Saulo Valle, entre outros…
Vocês participaram de eventos internacionais online, como o Calaveras Fest (México) e Under Latino Americano (Peru). Como tem sido a receptividade da Signo 13 fora do Brasil e o que isso representa para vocês?
É maravilhoso esse feedback que vem de outros países, afinal nosso trabalho é essencialmente em português, e desde o começo da banda sempre tivemos muito apoio do pessoal de fora. Esses eventos que você citou rolaram durante aquele período da pandemia, foi bacana conhecer novas bandas e fazer novas amizades, rolaram muitos novos admiradores por conta desses festivais. Já tivemos convites para shows na América Latina e Europa, ainda não deu certo, mas, está caminhando para isso se concretizar em breve.
A faixa “I Don’t Know How to Dance” trouxe uma proposta mais dançante e é cantada em inglês. Existe uma intenção de expandir a comunicação da banda para outros públicos e mercados internacionais?
Essa foi a primeira faixa em inglês lançada pela banda, e é bem nessa vibe The Rapture, Ratatat, P.I.L. Essa expansão é consequência, existe um contexto, é fruto de um trabalho a longo prazo, no final das contas estamos apenas realizando esse exercício criativo da arte. Nesse novo álbum há uma faixa nesse molde, electrorock sensual e dançante.
O cenário underground de Brasília sempre foi potente, mas também muito desafiador. Quais são, na visão de vocês, os maiores desafios e potências de manter uma banda independente hoje no DF e no Brasil?
Bem, definitivamente Brasília é um solo fértil para boas bandas, temos alguns eventos, programas de rádio e festivais que são boas plataformas para espalhar seu som e mensagem. Aparentemente parece que tem espaço para todo mundo, mas, na realidade, não é bem assim.
O underground resiste nas periferias e é lá que está o que há de mais relevante culturalmente falando, são pequenos nichos, tocando para guetos.
Sobre ter banda independente é sempre algo complicado, complexo. Para manter as coisas rolando foi fundamental aprender a trabalhar com home studio, mixagem, produção, edição de vídeo, registro das obras e fonogramas, inclusive vejo que muitos amigos tem dificuldade com essa questão de direito autoral. Hoje o artista precisa dominar diversas habilidades e é difícil equilibrar essa equação aí que envolve tempo, dinheiro, estudo e a produção de arte em si.
Por fim, olhando para a trajetória da Signo 13, do primeiro EP até agora, qual legado vocês acreditam que estão construindo para a cena alternativa e independente brasileira?
Ter feito da Signo 13 uma espécie de laboratório de criação artística que engloba música, artes plásticas, cinema, dança e audiovisual. Desde realizar um show com uma intervenção da parceira de longa data Shabbanna, até realizar a trilha sonora para o filme do Peterson Paim sobre o Afonso Brazza, cada vez mais é nesse lugar inesperado que pretendo estar. Creio que esse é o legado que fica, essa plataforma onde artistas e amigos se encontram para criar algo novo e que reflita o espírito do nosso tempo, sem nostalgia.
No mais, queria te agradecer Amarildo pelo espaço, adorei as perguntas. E convido todxs a dar uma conferida em nossos perfis que estão espalhados aí pela rede, aproveito o espaço para comunicar que estamos procurando selos parceiros para participar do lançamento do nosso novo disco em formato físico, para quem se interessar, só chamar lá no inbox em nosso Instagram. Deixo um beijo e um abraço a todos✌🏾👊🏾🦇